Alunos começam a programar após duas horas com voluntário

Uma página em html, com tabela, formulário, cor e uma foto escolhida por cada aluno. Este foi o produto de uma oficina de programação de duas horas no Colégio Estadual Maria Teixeira Aguiar, em Curitiba. A atividade foi proposta por Felipe Fortes, depois do pedido da estudante Ana Paula de Carvalho no Quero na Escola.

“Foi bem legal, foi um método que mesmo quem não soubesse nada, conseguia”, comentou Arthur Abreu, que cursa o segundo ano do Ensino Médio e achou “uau”, um profissional de fora da escola participar. “Ele foi super prático, todos se interessaram, fizeram junto e deu certo”, comentou o estudante.

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Cartaz produzido pelos alunos avisando da atividade

A oficina ocorreu na sexta-feira passada à tarde e foi para os alunos que estudam em outros períodos.

O voluntário que conhecia a escola só de passar em frente, achou a unidade organizada e os alunos interessados. “Tudo que eu pedi, projetor, caixa de som, arrumaram rápido e os alunos respeitaram bastante”, contou. Apesar dos elogios, aluno e professor comentaram que faltou internet em alguns computadores.

A atividade de duas horas começou com explicação do que é um programador e um programa em uma aula expositiva de meia hora e depois passou a parte prática. “Alguns já sabiam pra que servia, como é criado e linguagem de programação. Para mim foi bom saber que o pessoal do Ensino Médio já consegue montar um site”, comentou Fortes.

O diretor da escola, Dario Ivatiuk, convidou Felipe a voltar outras vezes. “É muito bom ter esta parceria com pessoas de fora, que trazem um olhar de profissional. Os alunos se interessam muito, vale a pena”, disse. Esta é a terceira vez que o Colégio Maria Aguiar recebe voluntários. Os dois primeiros foram fotógrafos.

Estudantes de qualquer escola pública pode se cadastrar no Quero na Escola e dizer o que gostariam de aprender além do currículo da escola.

 

Veja tudo que já ocorreu aqui em Notícias do Quero na Escola.

Ex-aluno volta à escola da adolescência como palestrante do Quero na Escola

Apaixonado por Quadrinhos, Bruno Miquelino viu no pedido de uma aluna no site do Quero na Escola a oportunidade de compartilhar um pouco do que aprendeu com seu hobby de ler e colecionar os HQs. Por coincidência, o pedido era da escola estadual Myrthes Therezinha Assad Villela, onde ele estudou durante o 6º ano do fundamental. Não tinha como recusar: Bruno se voluntariou para dar uma palestra sobre a história das histórias em quadrinhos, que aconteceu na quarta-feira, dia 31.

Mais do que matar a saudade, o retorno a sua antiga escola fez Bruno descobrir um novo ambiente, mais aberto e estimulante do que na sua época de aluno. “Foi muito melhor do que eu esperava. A visita à escola tirou um pouco da ideia de que na rede pública é tudo quadrado, padronizado, como eu pensava. Vi que estão todos interessados em aprender outras coisas, e os professores dispostos a proporcionar experiências diferentes”, conta ele.

WhatsApp Image 2016-09-01 at 17.50.09Bruno chegou ao colégio uma hora antes para poder se organizar e acabou trocando ideias com os professores. Eles decidiram, em conjunto, fazer não apenas uma, mas duas palestras, de forma a atender as seis turmas daquele turno. Assim, participaram mais de 120 alunos, além de seis professores e uma funcionária.

“Ele começou aguçando a curiosidade dos alunos falando de personagens de filmes atuais como Batman, Super Man e Esquadrão Suicida, e depois foi para o começo da história dos quadrinhos. Falou muito das empresas DC Comics e Marvel Comics, da concorrência entre elas, da criação de personagens influenciados por fatos históricos, como segunda guerra mundial, festival de Woodstock etc.”, relatou a coordenadora pedagógica Kelly Cunha.

Ela conta que todos elogiaram muito a palestra e que professores viram oportunidades de linkar o conteúdo com temas que estão sendo trabalhados em sala de aula.

Bruno saiu satisfeito: “Acho que os dois públicos gostaram – até os professores fizeram perguntas! Os estudantes gostaram por ouvir sobre seus heróis, os personagens que admiram. Os professores pela parte história e a discussão sobre a cultura.”

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Aluna que gosta de escrever é atendida com oficina de Escrita Criativa em Itapevi

Gabrielly Pinheiro Guedes, de 16 anos, gosta de escrever, pretende fazer faculdade de História e pediu uma oficina de Escrita Criativa no Quero na Escola. Na última terça-feira (23), Alessandra Corá, pedagoga e editora de texto, foi até a Escola Estadual Professora Maria Soares, em Itapevi, na Grande São Paulo.

“Ela começou lendo um livro, fez algumas perguntas e pediu para a gente fazer um desenho, criar um personagem, contar os detalhes dele. Depois a gente passava o personagem para os amigos completarem a história. Eu fiz esse pedido, porque gosto muito de redação. Acho que sou uma pessoa criativa, mas me ajudou muito essa dinâmica, nunca tinha feito isso de continuar uma história que não era minha”, contou a estudante, que está no 3º ano do Ensino Médio.

Alessandra realizou quatro oficinas, em 4 salas diferente, atendendo cerca de 140 alunos. “Participar de um baita projeto, daqueles que você pensa que pode fazer diferença. Devolver ao mundo o que aprendi. Isso é o que o Quero na Escola faz! Vale a pena doar parte do seu tempo para contribuir com a educação pública!”, escreveu a voluntária em seu Facebook. Alessandra também trabalha com formação de professores na área de leitura e linguagem e participa de um grupo de escrita focado no público infanto juvenil.

Gabrielly faz parte do Grêmio de sua escola e conta que sempre tenta fazer atividades diferentes, mas que sem o pedido no Quero na Escola, dificilmente teria conseguido levar uma profissional para dentro da sala de aula. “Todo dia vejo gente reclamando da escola, que é tudo sempre igual. Eu tento fazer algo diferente no recreio, alguma atividade, mas não posso levar uma pessoa de fora para dar uma palestra. Quando conheci o Quero na Escola, achei demais e fiz um montão de pedidos lá. Não conheço muito quem criou isso, mas não tenho nem palavras para definir, quem quer ajudar a escola pública está fazendo algo muito bonito.”

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Uma conversa na escola sobre Feminismo

A primeira aula da última segunda-feira (15) foi diferente para uma turma de alunos do ensino médio da Escola Estadual Myrthes Theresinha Assad Villela, em Barueri, na Grande São Paulo. Eles começaram o dia com uma palestra e um debate sobre Feminismo, tema solicitado por uma aluna no Quero na Escola.

A advogada Gabriela Ponte Machado se voluntariou para conversar com os alunos e chegou às 7h da manhã para o bate-papo com os estudantes. “Foi muito legal, superou minhas expectativas. No começo eles estavam meio tímidos, mas aos poucos fui abrindo para perguntas e rolou um megadebate, sobre vários temas, aborto, violência doméstica. Achei os estudantes bem informados, várias meninas superengajadas, conscientes, com bom nível de argumentação. Foi muito bom!”, resumiu a advogada.

WhatsApp Image 2016-08-15 at 14.30.26Gabriela estudou em seu mestrado uma disciplina sobre Jurisprudência na Suprema Corte dos Estados Unidos, e como as decisões dos juízes levaram em conta questões feministas. “Sou muito interessada no tema, leio e pesquiso a respeito”, disse.

Gabriela iniciou sua fala mostrando duas frases, “Bela, recada e do lar”, da revista Veja, usada para definir Marcela Temer, esposa do presidente em exercício,  Michel Temer, e outra de um artigo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, “O feminismo do século 21 é a ideia de que quando todos são iguais, nós somos mais livres”.

“Comentei sobre este artigo do Obama, no qual ele fala sobre suas filhas e sobre como ele tinha mudado o pensamento dele ao longo dos anos, contei sobre o surgimento do feminismo, disse que o movimento tem muitas vertentes, cada uma com suas particularidades. Abordei também as dificuldades que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, a luta da menina paquistanesa Malala, pela inclusão das mulheres na educação, e sobre o feminismo negro. Deixei claro que eu, enquanto mulher branca, loira, de olho azul, não posso falar com propriedade, mas que estava ali contando para eles que existe esse movimento. Uma aluna se identificou e falou sobre questões que as mulheres negras enfrentam”.

WhatsApp Image 2016-08-15 at 14.30.23A aluna que fez o pedido, Letícia Fernandes, de 17 anos, aprovou a discussão. “Os alunos participaram bastante. Fiz esse pedido, porque tem muito homem que acha que feminismo significa que a mulher quer se colocar acima dos homens e não é isso, é uma questão de igualdade, como o Obama falou”, relatou.

Para a Letícia, se não fosse o pedido no Quero na Escola, dificilmente um debate envolvendo alunos de várias turmas diferentes teria acontecido. “A gente teria debatido na aula de Sociologia, mas não assim como todo mundo envolvido. O projeto é muito bonito, espero que mais gente conheça e participe”, disse a estudante.

A professora de Sociologia Tatiane Constâncio da Cruz, que acompanhou a atividade, concorda que a interação entre as turmas foi um ponto positivo. “Eu gostei bastante, mas os alunos gostaram mais ainda, ficaram muito empolgados. Achei interessante quando ela falou sobre o Obama e sobre o mercado de trabalho e que ela, como advogada, tem que enfrentar um universo profissional predominantemente masculino”, apontou a professora.

Cerca de 50 alunos participaram da atividade. A escola e a voluntária pretendem repetir a dose para atender mais estudantes interessados.

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Foi a 1ª vez que fiz trabalho voluntário. E foi maravilhoso, diz contador de história

Estudante de Letras, Paulo Henrique Oliveira se prepara para ser professor, mas confessa que se sentiu nervoso antes de  enfrentar pela primeira vez uma sala de aula. E foram logo duas: o 6º e o 7º ano do período vespertino da José Cândido de Souza, na Pompeia, em São Paulo. Ele foi contar uma história na sexta-feira, dia  12. 

Também foi a primeira vez que fez algum tipo de trabalho voluntário. No final, a apreensão e o nervosismo deram lugar a um sentimento de completude. “Foi maravilhoso, um momento em que consegui ser eu mesmo”, disse o voluntário.

Ele apresentou aos alunos o livro Ponto de Vista, de Ana Maria Machado, com ilustrações de Ziraldo. “A história se passa no Rio e é sobre a amizade de dois meninos. O texto de Ana Maria é ótimo e, na sala de leitura, pude ir mostrando as ilustrações do Ziraldo, que são lindas”, contou Paulo Henrique.

Na mesma escola, há um pedido que ainda não foi atendido: Acrobacias em Tecido. E há muito mais em escolas de várias cidades do Brasil. Veja aqui como você também pode ajudar.

Gargalhadas, leveza e conexão em aula de meditação em escola pública

Fim de tarde de sexta-feira e 14 alunos de Ensino Médio que tiveram aula de manhã voltaram para a escola estadual Myrthes Theresinha Assad Villela, em Barueri, porque quiseram ter mais uma aula. Outros 10 estudantes do período da tarde conseguiram dispensa para se juntar ao grupo que se divertiu muito em uma aula de meditação solicitada por uma das estudantes pelo Quero na Escola.

A atividade começou com uma roda de apresentações que incluía nome, idade, se já meditou, signo e um super poder. A primeira a falar queria voar, outra queria se teletransportar, uma queria saber tudo e vários escolheram “ser invisível”.

Atividade começou com conceito de presença
Atividade começou com conceito de presença

A psicóloga Stefanny Bauman, que se voluntariou para atender ao pedido da estudante Letícia Fernandes, de 17 anos, disse que tinha o super poder da presença e partiu daí sua fala sobre meditação. “Quem já se sentiu como se só o corpo estivesse ali, mas a cabeça está em outro lugar?” A identificação foi absoluta e a descontração também.

Em seguida, a terapeuta fez um jogo de concentração com toda a turma em que era preciso prestar atenção se seria a sua vez e o que dizer em uma ordem simples: 1, 2, 3, 4, 5, 6, Seven up. No começo, pouca gente acertou, mas em alguns minutos estavam todos “presentes” na brincadeira e no final ninguém mais errava.

Stefanny mostrou slides com os tipos de meditação e técnicas e falou dos benefícios físicos, mentais e dos mitos também. Depois, fez uma meditação guiada com a turma. Camila Oliveira de Toledo, uma das que queriam ser invisíveis, diz que sentiu como se, em vez dela, os outros estivessem de olhos fechados. “Foi incrível, vou fazer mais vezes com certeza.”

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Stefanny, Letícia e Kelly: voluntária, aluna que pediu e coordenadora pedagógica

A autora do pedido diz que a sensação foi de leveza. “Eu acho que a gente parece se conectar com algumas coisas que estão confusas e se concentrar na gente”, resumiu.

A coordenadora pedagógica Kelly Cunha Lopes, observou que o conteúdo pode se conectar às necessidades dos adolescentes, especialmente para se contrapor ao estresse da aproximação do vestibular e para dar dicas de como recuperar a calma e a concentração. “Eu acho que também é importante pra eles ser uma coisa que os próprios alunos pediram, eu não imaginava que os alunos da manhã voltariam, queimei minha língua”, comentou bem humorada.

Ao final, os estudantes fizeram uma carta de agradecimento a Stefanny e trocaram contatos. “Eu tenho um projeto de trabalhar com escola pública eu acho que é onde a gente pode fazer uma diferença e estou em êxtase. Realizei um sonho”, finalizou a voluntária.

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Uma aula sobre a complexidade do Oriente Médio

O pedido por uma palestra sobre Intolerância Religiosa de um aluno do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro ao Quero na Escola, motivou a professora Monique Sochaczewski Goldfeld, pesquisadora do Oriente Médio, a conversar com os alunos sobre essa região tão sagrada e igualmente complexa.

Na última sexta-feira (15), Monique deu uma aula sobre os principais conflitos, a coexistência de diferentes etnias, religiões, e grupos terroristas, como o Estado Islâmico, com a ajuda de mapas. “Estão ficando tontos? É para ficar, porque é muito complexa a região”, brincou Monique durante a aula.

IMG_2185Os estudantes se interessaram principalmente sobre a guerra civil na Síria e sobre o grupo terrorista Estado Islâmico. “Nós analistas acreditamos que ainda vamos ouvir falar muito deles”, disse Monique, que dá aulas na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e cursos na Casa do Saber.

Monique explicou que, diferentemente da Al Qaeda, o Estado Islâmico tem territórios e recursos financeiros, conquistados pela venda de petróleo, de relíquias históricas no mercado negro, pela cobrança de impostos nas cidades dominadas, e pelo pagamento de resgates de sequestrados, entre outras fontes de renda.

No dia anterior a palestra, havia acontecido um atentado na França com um caminhão, que atropelou uma multidão, deixando cerca de 90 pessoas mortas em Nice, no sul do país. “O que aconteceu ontem em Nice é algo que a gente fica desesperado quando estuda o terrorismo, que é o lobo solitário, alguém que se inspira naquela ideologia e você não tem como prever”, analisou completando que o atentado em uma boate gay de Orlando, nos Estados Unidos, também parecia ter o perfil de ação de lobo solitário.

Luis Fernando Figueiredo, de 18 anos, autor do pedido no site do Quero na Escola, estava pensando em um debate sobre Intolerância Religiosa, com representantes de diversas religiões, “do budismo ao satanismo”, mas achou interessante a palestra com foco no Oriente Médio: “Tirei algumas dúvidas e gostei da parte sobre o Estado Islâmico”.

A estudante Bruna Silva de Souza, de 17 anos, pretende cursar Relações Internacionais e gostou de poder se aprofundar no Oriente Médio na escola. “Nós do Ensino Médio não temos essa questão em sala de aula, mal estudamos o Brasil, imagine países diferentes com culturas diferentes”, disse.

“Aprendi bastante principalmente em relação à Síria, que me interessa porque minha avó é de lá. Gostaria que as matérias fossem assim mais dinâmicas, sobre esses temas, porque os alunos aprenderiam bem mais do que só copiar o que está no quadro”, disse Thaís Correia, de 19 anos.

Para a voluntária, que está acostumada a dar aulas para pós-graduação, foi um desafio falar com estudantes de ensino médio. “Adorei, mas senti que talvez devesse ter feito algo mais na linguagem deles. Como em qualquer turma tinha alguns mais interessados na frente, perguntando, e outros menos. Eles leem, veem jornalistas falando na imprensa análises e é uma oportunidade de ter um tempo maior para elaborar as coisas”, avaliou.

Muito além do gibi

Na última segunda-feira (11), o ilustrador e quadrinista Pacha Urbano deu uma aula teórica e prática sobre Quadrinhos no Colégio Estadual Missionário Mario Way, em Inhoaíba, na zona oeste do Rio de Janeiro. O pedido tinha sido feito no site do Quero na Escola por Moisés Gomes, de 18 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio, fã de histórias em quadrinhos de super-heróis.

Mas a aula dada por Pacha foi muito além do gibi. O ilustrador resgatou as primeiras imagens deixadas por seres humanos em pedras, as pinturas rupestres, passando pelos astecas, que faziam papel a partir do agave (planta utilizada na produção de tequila), por iluminuras medievais, até chegar ao primeiro personagem com balão de fala. Mostrando que, desde os primórdios, a humanidade utiliza ilustrações para retratar sua realidade.

11072016-IMG_2158Com exemplos de tirinhas de autores brasileiros e estrangeiros, Pacha apresentou diferentes formas de contar histórias em quadrinhos, com desenhos mais ou menos elaborados, apontou recursos usados para mostrar a passagem do tempo, metalinguagens, metáforas e ironias empregadas. O ilustrador também explicou o conceito de Pareidolia, quando imagens aleatórias e vagas são percebidas como algo distinto e com significado (como o rosto humano), que permite que com poucos traços, personagens humanos sejam criados.

O autor de “As traumáticas aventuras do filho do Freud” (http://facebook.com/FilhodoFreud) contou para os estudantes que, após muito estudar sobre Psicanálise, decidiu criar os personagens (Sigmund Freud, e seus filhos Jean-Martin e Anna) para transportar para outra linguagem os conceitos que havia aprendido. “Se você acha graça nas coisas que aprende, fica mais fácil gravá-las”, disse aos estudantes.

Depois da aula teórica, os alunos realizaram uma atividade prática. A turma escolheu três frases e todos tiveram que elaborar uma história com quatro quadrinhos, que tivessem obrigatoriamente as três frases escolhidas.

Para o estudante que pediu a atividade, a aula ampliou horizontes. “Quando solicitei o tema no Quero na Escola eu esperava algo voltado para os super-heróis e o Pacha levou uma outra perspectiva sobre tudo. Quando ele começou a falar, eu vi que ia muito além do que queria, e foi maravilhoso. Foi muito mais cultural. Foi uma oportunidade de explorar um universo que a gente ama ainda mais”, relatou Moisés.

O ilustrador ficou contente por poder levar uma atividade sobre Quadrinhos para uma região desassistida culturalmente – a escola fica localizada a cerca de 60 quilômetros do centro da cidade. Ex-aluno de escola pública periférica, Pacha se perguntou como teria sido se na sua adolescência debates como este tivessem acontecido em seu colégio.

“É muito gratificante poder fazer isso. Lidar com dúvidas genuínas e ajudar os estudantes a decodificar conteúdos e temas. Falamos sobre diversas coisas, sobre repertório cultural, de imagens, fazendo eles refletirem sobre o que já sabem. Eles têm bagagem cultural e são agentes culturais, meu papel é jogar querosene, para que eles produzam”, contou Pacha.

“Quem aqui usa droga?”, perguntaram levantando as próprias mãos

Os psicólogos Gabriela Campos dos Santos, 23 anos, e Otávio Machado, 24, não fizeram a palestra que os estudantes da Escola Estadual Caetano de Campos da Aclimação, no Cento de São Paulo, esperavam. O tema foi solicitado por uma estudante representante do grêmio ao Quero na Escola, mas quando os 63 alunos do Ensino Médio noturno se reuniram na sala de leitura, esperavam algo diferente.

“Quem aqui usa droga?”, perguntou Machado. Primeiro levantaram a mão apenas ele e a colega. Depois, a professora de Filosofia, Monica Severo – uma entre os cinco educadores que acompanhavam – somou, explicando que gostava da “cervejinha socialmente”. Os estudantes olharam cúmplices e até riram, mas não levantaram a mão.

drgas_cc2Os voluntários explicaram que até o café e o doce contém “substâncias que viciam” e que estavam certos de que todos ali usavam drogas. Passaram, então, a falar das lícitas e ilícitas.“Eu já usei drogas ilícitas e eventualmente ainda uso maconha”, confessou Machado, conseguindo daí para frente atenção total da turma.

Entre informações amparadas pela Organização Mundial da Saúde sobre substâncias que viciam, os dois falaram da diferença entre uso, abuso e dependência. “Uso é o ato de você consumir aquela vez, abuso é quando vai além, passa do limite, como o porre que te deixa mal no dia seguinte, e dependência é quando você não consegue ficar sem e isso atrapalha você dar seu rolê, você estudar, etc”, explicou Gabriela.

Os dois falaram sobre procedência, alertando que substâncias misturadas podem fazer mais mal à saúde que a droga em si, sobre olhar para a sua condição psicológica ao usar e como depressão e ansiedade podem piorar com maconha, por exemplo, e, um dos tópicos que os estudantes mais gostaram: prestar atenção na situação em que você está antes de usar, o que vai desde a consciência de que na adolescência os danos podem ser maiores porque o cérebro está em desenvolvimento até os 22 anos a quem são os amigos em quem você confia.

drogas_cc2“Quando ele falou de pensar quem vai usar com você, quem vai estar bem se você precisar de cuidado, onde você vai estar se ficar chapada, os riscos de você ficar em perigo por causa da droga, isso foi um ponto muito importante de conscientização”, comentou Thaylinne Cunha, 18 anos, autora do pedido ao Quero na Escola. “Eu achei demais. Foi mais legal do que a gente esperava, porque foi uma coisa da realidade da maioria aqui.”

Um aluno perguntou se eles eram a favor da legalização. “Sou a favor da regulamentação, o que inclui tornar o mais seguro possível. Toda sociedade sempre teve droga”, comentou Machado.

Ao final, os dois perguntaram qual era o principal recado: “Não use droga”, disse um dos estudantes. “Não é isso, não. É saiba qual a situação que você está usando”, concluiu o psicólogo que trabalha em uma ONG de Redução de Danos em Sorocaba.

A professora de Filosofia, Mônica Severo, que foi à escola só para ouvir, também achou acima da expectativa. “Os meninos precisam muito que alguém fale com eles desta forma honesta, sem moralismo, mas com a reflexão sobre o dano.”

O professor de Português Júlio César Esbarras disse que aproveitará o evento para produção de artigos de opinião. “Super legal eles terem este espaço pra reflexão com informação e de um assunto tão próximo para eles”, disse.

A coordenadora pedagógica Ana Maria, que também foi à instituição fora do horário para acompanhar como seria o primeiro evento do Quero na Escola na Caetano de Campos, diz que quer “esperar para ver” os resultados em relação à conscientização. “O que gostei foi de vocês dispostos a ajudar, com temas que nem sempre são do nosso domínio.”

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Em manhã gelada, 220 alunos se reúnem para ouvir voluntária

“Quem sou eu?”, perguntou a jornalista e empreendedora Cristiane Machado à frente de um slide que mostrava seus “rótulos” adquiridos aos 220 alunos da Escola Estadual Jardim Residencial Bambi, em Guarulhos, que se reuniam para sua palestra sobre empreendedorismo. O evento foi promovido após pedido registrado no Quero na Escola.

Diante de logomarcas como a da Universidade de São Paulo (USP), em que ela fez a pós-graduação, e de empresas com as quais já trabalhou, vieram respostas como “empresária” e “importante”. “Então, mostrei quem eu realmente era”, conta Cristiane que, no segundo slide, mostrou fotos pessoais enquanto contava que era filha de nordestinos, uma menina pobre que estudou em uma escola pública da periferia de Guarulhos, como eles neste momento.

empreend2“Ficou muito na nossa realidade”,  comentou Hilmara Fernandes, 16 anos, estudante engajada em projetos de empreendedorismo educacional que fez o pedido para que voluntários fossem falar do assunto em sua escola. Ela organizou o evento que reuniu todos os estudantes do Ensino Médio na manhã de menos de 10ºC de temperatura da última sexta-feira.

Esta é a segunda voluntária a atender a unidade. Em maio, a gestora de Iniciativas Empreendedoras do Inspirare, Ana Flávia Castro, já havia dado uma palestra sobre o assunto para 65 alunos. “Quem ficou de fora da outra vez, quis participar desta”, explica Hilmara.

Cristiane falou de entidades de empreendedorismo, comportamento empreendedor, deu exemplos de pessoas e caminhos. “Foi o dia que eu voltei a uma escola pública, pra dizer que estudar e fazer o que gosta dá certo, depois de 23 anos. Amei a experiência”, contou a voluntária.

A coordenadora pedagógica, Sonia Lima, elogiou a jornalista por “envolver mais de 200 alunos”. Este foi o evento promovido pelo Quero na Escola com maior número de alunos atendidos de uma só vez. Antes, havia sido uma palestra contra machismo em Parelheiros que teve a participação de 170 estudantes.

O Quero na Escola é para os estudantes de escolas públicas dizerem o que mais querem aprender além do currículo obrigatório.

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