Voluntário se sensibiliza e consegue computador para estudante que apoia

Desde setembro de 2021, quando ainda havia escolas fechadas ou abrindo parcialmente devido à pandemia de Covid, o especialista em educação financeira Jorge Kazuo conversar online com a estudante Emanuelle Oliveira, que se inscreveu no Quero na Escola para saber mais sobre finanças pessoais. Ele mora em São Paulo, ela em Niterói, no Rio de Janeiro e já falaram sobre aposentadoria, investimentos, previdência e equilíbrio emocional e, no meio disso tudo, sobre a falta que faz um computador. Ela, como milhões de estudantes no Brasil, acessa a internet apenas pelo celular.

Em 2022, Kazuo resolveu tentar ajudar um pouco mais. Falou com os amigos e encontrou, no grupo do futebol, o Marcelo, que trabalha com tecnologia e tinha um notebook usado que podia ser doado. Aqui no Quero na Escola, costumamos apoiar apenas os encontros de pessoas, mas abrimos uma exceção e fomos buscar e enviar o computador pelo correio.

“Eu confesso que fiquei até desconfiada quando me contaram”, contou Emanuelle. Por alguns motivos, a entrega demorou a dar certo, mais de um mês depois, finalmente a adolescente tem acesso a novas ferramentas. “Posso fazer muito mais agora”, comemora.

Kazuo é o criador da KazuEduca, que visa atuar com jovens e adolescentes de escolas públicas em temas como educação financeira, orientação profissional, incentivo à leitura e projeto de vida. “Sempre frequentei a escola pública até me formar na faculdade. Construí uma história de mais de 30 anos na área de tecnologia e no setor financeiro. Sou muito grato pelas chances que a educação pública me proporcionou”, comenta.

Sabia que muitos outros estudantes também não conseguem acessar ferramentas completas de edição de texto, planilhas e outras possibilidades importantes por falta de computador? Se você tem um parado aí, estamos buscando mais um!

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Crises de ansiedade mostram urgência de cuidado nas escolas

A ansiedade é uma condição de saúde mental comum que afeta milhões de jovens em todo o mundo. Na escola em que estudo as crises de ansiedade são moderadas, geralmente acontecem antes de uma prova ou atividade muito importante que estudantes como eu tem uma preocupação excessiva. Eles manifestam os sintomas da ansiedade como a respiração desregulada, mãos tremendo e o coração acelerado, trazendo grande sensação de angústia nervosismo e insegurança. 

Quando presenciei uma crise de ansiedade na escola pela primeira vez, fiquei um pouco assustada. Aconteceu antes de uma prova com um colega que se sentiu extremamente nervoso. Eu fiquei preocupada pois não sabia como ajudá-lo. Como apenas eu percebi o que estava acontecendo, tentei usar do pouco conhecimento que eu tinha para ajudar meu colega, mas como isso nunca tinha de fato acontecido comigo e por eu não ter grande conhecimento sobre, não soube como reagir. O professor não notou o que estava acontecendo e tive, como última opção, falar com alguma colega. Expliquei o que estava havendo e ela também tentou o ajudar, mas nada o acalmava; só depois de muito tempo que felizmente ele conseguiu tranquilizar-se.

Normalmente quando os professores percebem que um aluno está tendo uma crise eles não sabem lidar com a situação, consequentemente os alunos mesmo sem saberem, ajudam uns aos outros. Por causa de situações como essa, as escolas deveriam explorar mais temas como esses, mas infelizmente não é um assunto abordado na minha escola. Não aprendemos a cuidar da nossa saúde mental como deveriamos ou a até mesmo como lidar com as consequências da falta dela.

Conforme consta na lei 13.935, de 2019, as escolas devem ter equipes focadas na saúde mental. “Art. 1° – As redes públicas de educação básica contarão com serviços de psicologia e de serviço social para atender às necessidades e prioridades definidas pelas políticas de educação, por meio de equipes multiprofissionais”. Elas serviriam para promover melhorias de aprendizagem e detectar possíveis falhas no processo. Além disso, fornecer suporte essencial para programas de prevenção e desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Os alunos também podem ser ajudados ao serem ensinados a lidar com o estresse na escola ou enquanto estudam em casa.

Embora não seja possível as escolas empregarem todos os psicólogos de que precisariam; a psicologia tem muitas aplicações na educação que despertam interesse na área tanto para alunos quanto para professores. Os alunos que aproveitam os serviços de aconselhamento na escola têm maior probabilidade de sucesso acadêmico e emocional.

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Um aluno é mais que um ‘futuro profissional’

Por Nájla Karen*

Você já se sentiu pressionado(a/e), dentro da escola, a decidir qual carreira irá seguir? Dentre as diversas incertezas que nós lidamos na adolescência, a decisão do que vamos fazer por possivelmente o resto da vida é um peso que carregamos e somos pressionados, mesmo que indiretamente, a decidir o quanto antes. Em escolas públicas é comum haver o incentivo aos estudos com a justificativa de conquistar uma “boa” carreira futuramente, mas além de futuros profissionais, o que somos?

Desde os primeiros anos do ensino fundamental II meus professores mencionaram a possibilidade de estudar em escolas técnicas, como Institutos Federais e Etecs, no intuito de começar a consolidação de um currículo desde cedo. Já na Etec, segui ouvindo, desde o primeiro dia de aula, o quão vantajosa a minha formação técnica seria para o meu futuro, já que me ajudaria a conquistar as melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Quando pesquiso sobre as possibilidades disponíveis para o meu futuro após o ensino médio, quase todas estão ligadas a uma carreira profissional. Quando não me é indicado fazer outro curso técnico, é indicado ingressar no ensino superior. Quando nenhuma dessas opções se aplicam, devo ingressar no mercado de trabalho ou estudar para prestar concursos públicos. A única opção que foge desse padrão é fazer um intercâmbio, o que é uma realidade distante da maioria dos alunos de escola pública, que não têm condições de pagar por algo do tipo.

Desde a infância, somos preparados para sermos bons profissionais, e com a implementação do novo ensino médio, acredito que seremos levados cada vez mais a nos desenvolvermos profissionalmente, enquanto nos falta incentivo para desenvolver habilidades pessoais e socioemocionais. Se alunos fossem preparados para serem pessoas equilibradas emocionalmente e conscientes, consequentemente seriam melhores profissionais, e por isso acredito que as escolas deveriam se preocupar mais em explorar as capacidades dos alunos para além de um currículo profissional.

Eu, por exemplo, me engajo em atividades que vão além da sala de aula e saem da bolha de me preparar para o mercado de trabalho – como dança e trabalho voluntário em um clube Girl Up e no Globalizando -, me levando a interagir com a comunidade em que estou inserida. Nessas atividades, tenho desenvolvido habilidades socioemocionais úteis para a vida e para o mercado ao mesmo tempo, como comunicação, reconhecimento de vulnerabilidades e liderança. Apesar de eu ter me engajado nessas atividades por conta própria, membros do corpo docente e direção da minha escola costumam achar interessante e enriquecedor quando conhecem mais a respeito. Assim, ainda acredito na possibilidade de um dia as escolas verem mais do que força de trabalho nos alunos, mas potenciais que vão além da sala de aula e do escritório.

Com isso, deixo aqui o meu incentivo à você, aluno(a/e), para explorar as suas habilidades e gostos pessoais. Nós somos muito mais do que futuros profissionais, somos o futuro. Se permita descobrir e desenvolver habilidades que nem imaginava que teria, explorar seus gostos, se envolver com o local em que está inserido(a/e) e viver uma vida além da vida profissional e acadêmica. Aceite desafios e lidere a mudança, para que um dia o incentivo ao desenvolvimento pessoal seja algo normal, não um caso isolado.

* Nájla Karen é estudante da Etec Professor Camargo Aranha, em São Paulo, e tem 17 anos

Faltam oportunidades extracurriculares nas Escolas Públicas

por Matheus Lima*

Você já sentiu como se a escola não te preparasse para o mundo? Sendo estudante de escola pública durante toda minha vida, eu pude sentir como o currículo básico é exaustivo, mas também como as atividades extracurriculares podem ser a “válvula de escape” dentro do ambiente escolar para colocar o aluno como protagonista da sua educação. 

Eu amo fazer cálculos em matemática, redações em português, ou pensar sobre a sociedade em sociologia, mas eu sempre senti que precisava de mais, precisava ir além das quatro paredes da sala de aula para conhecer as minhas paixões e descobrir novas habilidades. O sistema em que o professor fala e você escuta, não colava mais pra mim – e foi na prática que eu percebi as vantagens de ir além desse modelo.

As ações realizadas fora da carga horária escolar obrigatória e padrão servem para que o estudante descubra suas aptidões e aprenda novas técnicas e competências. Podem ser de qualquer área, da prática de esportes, oportunidades de serviços comunitários ou ensino de línguas estrangeiras.

Em 2018,  quando estava no 8° ano, meus amigos e eu decidimos criar um projeto de mentoria para ajudar nossos colegas com defasagem na matemática básica (somos nós na foto deste texto). Nós ficávamos depois do meu período na escola e dávamos aulas para meus colegas. Assim pude descobrir minha paixão pela educação. Mas essa experiência não é a realidade de todas as escolas públicas: atividades fora dos horários escolares ainda são mal vistas e têm pouco incentivo

Atualmente, na sociedade brasileira temos o crescimento de jovens que levam a pecha de “nem nem” (termo usado para caracterizar jovens que não estão matriculados em instituições de ensino e nem trabalhando), que alguns especialistas chamam de “sem sem” pra chamar a atenção para a falta de algo relevante para esta população. De acordo com a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), houve um aumento de 35,9% nesta população no Brasil impulsionado pela falta de oportunidades e espaços para os jovens se desenvolverem e criarem suas próprias narrativas. Dentro das escolas públicas podemos ver isso a partir da falta de investimentos e infraestruturas nas instituições para as práticas dessas atividades, tornando a educação cada vez mais rígida, menos significativa e  sem espaço de trocas para os estudantes.

A prática de atividades extracurriculares tem que ser incentivada pois surge como um espaço de aprendizagem inovador. Nós jovens podemos ir além do que está na Base Nacional Comum Curricular – ou o que quer que esteja receitado exatamente. Outros ares podem ser um alívio na rotina de cobranças, uma forma de autoconhecimento, contato com novas técnicas e conhecimentos que podem agregar na experiência pessoal e profissional. Com a implementação de atividades que fugissem da casinha, os estudantes poderiam realmente sentir que a escola prepara os para o mundo.

*Matheus Lima é estudante estudante da Escola Estadual Prof. Maria Angélica Soave, em Guarulhos e tem 17 anos