Faltam oportunidades extracurriculares nas Escolas Públicas

por Matheus Lima*

Você já sentiu como se a escola não te preparasse para o mundo? Sendo estudante de escola pública durante toda minha vida, eu pude sentir como o currículo básico é exaustivo, mas também como as atividades extracurriculares podem ser a “válvula de escape” dentro do ambiente escolar para colocar o aluno como protagonista da sua educação. 

Eu amo fazer cálculos em matemática, redações em português, ou pensar sobre a sociedade em sociologia, mas eu sempre senti que precisava de mais, precisava ir além das quatro paredes da sala de aula para conhecer as minhas paixões e descobrir novas habilidades. O sistema em que o professor fala e você escuta, não colava mais pra mim – e foi na prática que eu percebi as vantagens de ir além desse modelo.

As ações realizadas fora da carga horária escolar obrigatória e padrão servem para que o estudante descubra suas aptidões e aprenda novas técnicas e competências. Podem ser de qualquer área, da prática de esportes, oportunidades de serviços comunitários ou ensino de línguas estrangeiras.

Em 2018,  quando estava no 8° ano, meus amigos e eu decidimos criar um projeto de mentoria para ajudar nossos colegas com defasagem na matemática básica (somos nós na foto deste texto). Nós ficávamos depois do meu período na escola e dávamos aulas para meus colegas. Assim pude descobrir minha paixão pela educação. Mas essa experiência não é a realidade de todas as escolas públicas: atividades fora dos horários escolares ainda são mal vistas e têm pouco incentivo

Atualmente, na sociedade brasileira temos o crescimento de jovens que levam a pecha de “nem nem” (termo usado para caracterizar jovens que não estão matriculados em instituições de ensino e nem trabalhando), que alguns especialistas chamam de “sem sem” pra chamar a atenção para a falta de algo relevante para esta população. De acordo com a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), houve um aumento de 35,9% nesta população no Brasil impulsionado pela falta de oportunidades e espaços para os jovens se desenvolverem e criarem suas próprias narrativas. Dentro das escolas públicas podemos ver isso a partir da falta de investimentos e infraestruturas nas instituições para as práticas dessas atividades, tornando a educação cada vez mais rígida, menos significativa e  sem espaço de trocas para os estudantes.

A prática de atividades extracurriculares tem que ser incentivada pois surge como um espaço de aprendizagem inovador. Nós jovens podemos ir além do que está na Base Nacional Comum Curricular – ou o que quer que esteja receitado exatamente. Outros ares podem ser um alívio na rotina de cobranças, uma forma de autoconhecimento, contato com novas técnicas e conhecimentos que podem agregar na experiência pessoal e profissional. Com a implementação de atividades que fugissem da casinha, os estudantes poderiam realmente sentir que a escola prepara os para o mundo.

*Matheus Lima é estudante estudante da Escola Estadual Prof. Maria Angélica Soave, em Guarulhos e tem 17 anos

Com a palavra, os estudantes

Para melhorar a escola pública, primeiro é preciso conhecê-la. 

Os estudantes são os protagonistas da escola. 

Estas duas frases sempre iluminam os projetos da Associação Quero na Escola. Antes de tudo que fazemos na educação, estabelecemos como ponto de partida escutar estudantes.  Mas e se eles mesmos pautassem os assuntos dos quais gostariam de falar sobre a escola? Resolvemos então abrir um novo espaço, no blog do Quero na Escola para nossos “estudantes autores”, que terão apoio de duas jornalistas cofundadoras do programa para produzir seus textos: Luciana Alvarez e Cinthia Rodrigues.

Os estudantes precisam ser ouvidos por todos. Não só os professores e diretores, mas toda a sociedade deveria saber o que os principais interessados na educação vivem, sentem e pensam na escola. Afinal, a educação é responsabilidade de todos.

O novo projeto está aberto a novos colaboradores que sejam estudantes de escolas públicas de qualquer parte do Brasil e queiram participar desta rede. Três estudantes aceitaram nosso convite para começar a partir deste semestre. Conheça:

“Olá, eu sou Aysla Vitória, tenho 13 anos, sou de Parelhas, Rio Grande do Norte. Atualmente estudo na Escola Estadual Barão do Rio Branco e estou cursando o 8° ano do Ensino Fundamental. Gosto de ler, escrever e aprender coisas novas, principalmente, outras línguas. Estou muito contente em participar desse projeto, onde poderei compartilhar temas dentro da escola pública com outros estudantes.”

“Oi gente, eu sou o Matheus Lima, tenho 17 anos, sou de Guarulhos, Grande São Paulo e atualmente sou estudante do Ensino Médio. Sou apaixonado por tecnologia e educação, e por isso, estou muito animado em compartilhar um pouco da minha trajetória, e sobre os temas que vejo e converso com meus colegas no dia a dia em nossa escola.”

“Nájla Karen, 17 anos, de São Paulo, capital. Estou no terceiro ano do ensino médio integrado a um curso técnico em Contabilidade em Etec. Sempre repito algo que o meu pai fala sobre mim quando vou me apresentar: sou ligada nos 220v. Amo aprender coisas novas e isso me leva a participar de diversos projetos/atividades aleatórias – como Taekwondo e trabalho voluntário – desde pequena. Foi assim que vim parar no blog e estou ansiosa para o que vem pela frente!”

Se você também quer ser nosso “correspondente” da sua escola, venha ser um de nossos autores! Mande um email para central@queronaescola.com.br ou nos procure nas redes sociais.

Aysla, Matheus e Nájla, obrigada por aceitarem o convite de se tornarem autores no blog do Quero na Escola! Vamos aprender muito juntos.