Um aluno é mais que um ‘futuro profissional’

Por Nájla Karen*

Você já se sentiu pressionado(a/e), dentro da escola, a decidir qual carreira irá seguir? Dentre as diversas incertezas que nós lidamos na adolescência, a decisão do que vamos fazer por possivelmente o resto da vida é um peso que carregamos e somos pressionados, mesmo que indiretamente, a decidir o quanto antes. Em escolas públicas é comum haver o incentivo aos estudos com a justificativa de conquistar uma “boa” carreira futuramente, mas além de futuros profissionais, o que somos?

Desde os primeiros anos do ensino fundamental II meus professores mencionaram a possibilidade de estudar em escolas técnicas, como Institutos Federais e Etecs, no intuito de começar a consolidação de um currículo desde cedo. Já na Etec, segui ouvindo, desde o primeiro dia de aula, o quão vantajosa a minha formação técnica seria para o meu futuro, já que me ajudaria a conquistar as melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Quando pesquiso sobre as possibilidades disponíveis para o meu futuro após o ensino médio, quase todas estão ligadas a uma carreira profissional. Quando não me é indicado fazer outro curso técnico, é indicado ingressar no ensino superior. Quando nenhuma dessas opções se aplicam, devo ingressar no mercado de trabalho ou estudar para prestar concursos públicos. A única opção que foge desse padrão é fazer um intercâmbio, o que é uma realidade distante da maioria dos alunos de escola pública, que não têm condições de pagar por algo do tipo.

Desde a infância, somos preparados para sermos bons profissionais, e com a implementação do novo ensino médio, acredito que seremos levados cada vez mais a nos desenvolvermos profissionalmente, enquanto nos falta incentivo para desenvolver habilidades pessoais e socioemocionais. Se alunos fossem preparados para serem pessoas equilibradas emocionalmente e conscientes, consequentemente seriam melhores profissionais, e por isso acredito que as escolas deveriam se preocupar mais em explorar as capacidades dos alunos para além de um currículo profissional.

Eu, por exemplo, me engajo em atividades que vão além da sala de aula e saem da bolha de me preparar para o mercado de trabalho – como dança e trabalho voluntário em um clube Girl Up e no Globalizando -, me levando a interagir com a comunidade em que estou inserida. Nessas atividades, tenho desenvolvido habilidades socioemocionais úteis para a vida e para o mercado ao mesmo tempo, como comunicação, reconhecimento de vulnerabilidades e liderança. Apesar de eu ter me engajado nessas atividades por conta própria, membros do corpo docente e direção da minha escola costumam achar interessante e enriquecedor quando conhecem mais a respeito. Assim, ainda acredito na possibilidade de um dia as escolas verem mais do que força de trabalho nos alunos, mas potenciais que vão além da sala de aula e do escritório.

Com isso, deixo aqui o meu incentivo à você, aluno(a/e), para explorar as suas habilidades e gostos pessoais. Nós somos muito mais do que futuros profissionais, somos o futuro. Se permita descobrir e desenvolver habilidades que nem imaginava que teria, explorar seus gostos, se envolver com o local em que está inserido(a/e) e viver uma vida além da vida profissional e acadêmica. Aceite desafios e lidere a mudança, para que um dia o incentivo ao desenvolvimento pessoal seja algo normal, não um caso isolado.

* Nájla Karen é estudante da Etec Professor Camargo Aranha, em São Paulo, e tem 17 anos

2 comentários em “Um aluno é mais que um ‘futuro profissional’

Deixe um comentário